Certas histórias chegam até nós como se tivessem caído de paraquedas, e a de Iliyan Kuzmanov ilustra bem esse exemplo. A trajetória desse empreendedor social, ativista, escritor e autor do bestseller If You Meet Buddha Kill Him!: A Pilgrimage To Freedom (disponível apenas em inglês) não tinha razão alguma para chegar ao meu conhecimento, mas quis o destino, através de uma indicação, que eu conhecesse um pouco de sua história. E que bom que isso aconteceu!
+ Projeto Ritmo do Coração: sua contribuição importa!
+ Tipos de máscaras de tecido: qual modelo escolher?
Iliyan Kuzmanov: cidadão do mundo
Natural da Bulgária, Kuzmanov estudou Direito em seu país de origem, História e Economia no Canadá, e Políticas Globais na Alemanha. Viveu na Inglaterra, na Rússia e na Ásia passou pela Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Índia. Foi em Londres que seus principais projetos começaram a tomar forma, mas Iliyan é, como podemos perceber, um cidadão do mundo.
“E quais são as conexões com o Brasil?”, foi o meu primeiro pensamento quando comecei a ler sobre seus projetos. E a verdade é que não há nenhuma, pelo menos não diretamente. Inegável, no entanto, é que alguns dos principais motivos que impulsionam Kuzmanov nessa luta são velhos conhecidos nossos: corrupção e injustiça social.
O despertar para o ativismo começou pelos problemas do seu país natal: “Quando ainda estava estudando direito na Bulgária, comecei a perceber que a vida real não era exatamente o que era mostrado nos livros”, conta. Apesar de ter percorrido o mundo nos anos seguintes, os problemas da Bulgária não foram esquecidos por ele. Iliyan pontua, levando em conta o cenário atual da pandemia, que o país “tem as menores taxas de vacinação da Europa, sendo 80% da população antivacina”.
Embora a população brasileira não seja antivacina, em sua maioria, o atraso na vacinação no país começou pelo posicionamento contrário de quem está no poder. Eis aí mais uma conexão.
O Mad Man da publicidade social
As andanças de Iliyan mundo afora alcançaram mentes que pensam igual e embarcaram nos mesmos ideais junto com ele. O legado de Kuzmanov no Reino Unido teve início com o EZO, eleita a melhor iniciativa social pelo Londonist, um dos maiores portais de cultura da Inglaterra. A ideia era criar um polo cultural autossustentável para fornecer cursos gratuitos para a comunidade local em Barking, uma das regiões mais carentes do Reino Unido.
De acordo com Iliyan, o projeto gerou renda não apenas para cobrir as despesas, mas para gerar um crescimento sustentável, oferecendo atividades e projetos que de fato engajassem os moradores de rua. “Foi uma espécie de escola prática. Através do EZO pudemos aprender muito sobre o controle de qualidade dos negócios sociais e aplicar o aprendizado em outras esferas”, afirma.
O rótulo de Mad Man da publicidade social veio pela idealização e execução de tantos projetos em diferentes partes do mundo. Membro da Mensa Internacional, uma organização sem fins lucrativos para pessoas com QI acima de 98 em testes supervisionados, Kuzmanov conta, sem modéstias, que a inteligência o tem ajudado a pensar sobre seus projetos e observar com clareza o que precisa ser feito.
Crises de terceiro mundo dentro do primeiro mundo
De acordo com o World Population Review, a Bulgária está entre os dez países mais pobres da Europa. Depois de perder uma grande parcela do mercado na década de 1990, a economia do país ficou completamente desestabilizada. Após um período de crescimento, a economia do país foi atingida novamente pela crise financeira de 2008. Dados mostram que mais de 40% dos búlgaros estão na faixa de risco de cair na pobreza, e quase 10% da população é considerada extremamente pobre.
Na Bulgária, Iliyan tem trabalhado para criar programas de transição multiculturais para ajudar a parcela mais carente da sociedade. Parte do projeto é realizar mudanças no sistema prisional, mas o principal foco é o tráfico de pessoas, violência doméstica e igualdade de gênero. Todos os projetos de sua ONG búlgara, Art Angel, foram 100% autofinanciados por seus negócios em Londres.
Atualmente Iliyan está se dedicando com mais afinco no projeto de vacinação contra a COVID-19 na Bulgária. “Os políticos não dão a mínima para o povo, estamos em crise desde o início da pandemia. Normalmente, as pessoas se consolidam em torno das tragédias, aqui elas brigam pelo poder”.
Se você encontrar o Buda, mate-o!
Esse é o título, em tradução livre, da obra mais recente de Iliyan Kuzmanov. Mas antes de ficar chocado com If You Meet Buddha Kill Him!: A Pilgrimage To Freedom, calma. O livro não é uma apologia à violência, tampouco um discurso de ódio de viés religioso. A publicação é uma jornada para o autoconhecimento, uma viagem interna que explora alma, ego, medos, desejos, criatividade e arte.
Perguntado sobre a escolha do título, Iliyan responde que ele se baseia no diálogo entre aluno e professor: “Significa que temos que ter pensamento crítico, nem sempre precisamos fazer o que nossos mestres dizem”, afirma.
Kuzmanov complementa: “O livro é um produto social. Os recursos arrecadados com a venda serão direcionados para a limpeza de oceanos e para projetos sociais que já fazem parte do escopo da nossa luta, como a violência doméstica e o tráfico humano. Também tenho um sonho de construir uma torrefação de café na Tailândia, mas por enquanto ainda é apenas uma ideia”.
+ Como comprar livros sem dinheiro
+ Biblioteca colaborativa nos táxis
Além das fronteiras da Europa
Sonhos, aliás, formam o rascunho para novos projetos. “O bom do empreendedorismo social é que você não depende de projetos ou fundações. Se você ganha dinheiro, você faz as coisas que gosta”, conta Iliyan, que diz ainda que não considera tudo que faz como trabalho. “É só rock and roll”, diverte-se, “não importa o que eu esteja fazendo, tudo é cheio de empolgação e paixão!”.
Mais do que um contador de histórias, Iliyan Kuzmanov é a pessoa que executa e vivencia as ações que propõe. “Tento ser a mudança que prego, brigo pelos ideais em que acredito, seja em Londres, ajudando imigrantes afegãos no Canadá ou construindo uma torrefação de café na Tailândia”, afirma.
Perguntado se o Brasil ou a América Latina em geral fazem parte de projetos futuros, Iliyan diz: “E por quê não? O Brasil é um grande produtor de café e os agricultores vendem por uma pechincha para a Europa. Eles poderiam receber muito mais”. Será que veremos uma ponte intercontinental em um futuro próximo? Apesar da distância física, ao que parece a afinidade de ideias e recursos entre Iliyan e o Brasil é bem promissora.