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Entre decks e Orixás: a caminhada de uma cartomante pela espiritualidade

Ingrid Yemojá, cartomante. É assim que essa fluminense, nascida em Niterói e moradora do Rio de Janeiro, se apresenta em suas redes sociais. Sua profissão, escancarada na bio do perfil, bem como em todo o conteúdo que posta, não deixa dúvidas sobre o que ela faz.

A cartomancia entrou na vida de Ingrid de maneira totalmente inesperada. Foi seu irmão, frequentador de uma casa de santo do Candomblé, quem recebeu o primeiro sinal: a entidade da casa lhe revelou, de forma direta, “Sua irmã virá pelo amor ou pela dor?”. Movida pelo medo e pela curiosidade, Ingrid decidiu ir, sem imaginar que aquele chamado transformaria seu caminho.

Foi Exu, o Orixá mensageiro, que a inspirou a seguir esse caminho espiritual. A vocação para acolher e aconselhar já fazia parte de sua essência, sempre cercada de amigos a quem oferecia apoio e conselhos. Com a cartomancia, essa inclinação natural ganhou um novo sentido, permitindo que ela ajudasse as pessoas através de leituras e orientação espiritual.

Hoje, ela se dedica a apoiar e amparar aqueles que a procuram, exatamente como sempre fez. Mas agora, diferente de antes, Ingrid vê seu valor sendo reconhecido. Deixou para trás pessoas que não a valorizavam e encontrou na espiritualidade um propósito que a fortalece diariamente.

O caminho de uma cartomante que superou a dor para cuidar dos outros

O caminho de Ingrid até a cartomancia não foi fácil. Após um término turbulento com o pai de seu filho, ela se sentia completamente perdida, sem reconhecer a própria identidade. “Eu não sabia mais quem era eu,” relembra. Ao mergulhar na cartomancia, encontrou um refúgio e uma forma de dar um novo significado à sua dor. Mesmo machucada, seguiu adiante, oferecendo apoio para outros enquanto também se curava. “Não me arrependo! Foi isso que me salvou e me tirou do limbo emocional que eu estava vivendo,” confessa.

Com a escolha de se dedicar integralmente à cartomancia e como mãe solo, Ingrid também encontrou uma maneira de estar mais presente para o filho, o pequeno Théo, hoje com 6 anos,. A rotina antes desgastante deu lugar a um equilíbrio maior entre o trabalho e o tempo com a família. “Coisa que trabalhando fora, eu não tinha,” acrescenta, contando que antes da cartomancia trabalhou com vendas, telemarketing e como cuidadora de crianças. Transformar a própria dor em uma fonte de força, evoluindo como mãe e profissional, foi um ato de resiliência.

Momentos de Théo nos braços da mãe e na saudação à Iemanjá.

Vencendo a autossabotagem

Para Ingrid, o maior desafio sempre foi lutar contra a própria insegurança. Depois de se sentir tão desvalorizada no relacionamento, ela enfrentou dificuldades para se enxergar como profissional. “Eu me sabotar, eu desacreditar de mim eram os meus desafios”, diz, rindo, mas lembrando das dúvidas que consumiam sua paz.

No entanto, a espiritualidade sempre deu um jeito de provar que essas inseguranças eram apenas sombras passageiras. Embora admita ter sido ela própria seu maior desafio, passo após passo, Ingrid foi reconstruindo sua autoconfiança, e a jornada para superar essa autossabotagem se tornou uma importante vitória em sua vida.

A mesa quando Ingrid iniciou seus trabalhos como cartomante. “Eu jogava em cima de um banquinho de madeira e só tinha esses dois decks e uns poucos cristais”, conta.

Encontrando forças em novos encontros

Em um dos momentos de maior dificuldade, quando as contas começaram a pesar e ela pensou em desistir da cartomancia, Ingrid encontrou um aliado inesperado. Através das redes sociais, ela conheceu um colega de profissão que ofereceu dicas relevantes sobre como se organizar e estruturar melhor suas leituras. Esse fortuito apoio trouxe a força que ela precisava para continuar, planejar e finalmente viver exclusivamente da cartomancia.

“A partir desses insights, consegui me organizar para viver desse chamado que recebi,” revela com gratidão. Hoje, Ingrid sustenta a família e cobre todas as despesas com seu trabalho como cartomante. “Minhas contas, meu sustento, as coisas do meu filho, tudo provém do meu trabalho,” afirma. Esse encontro foi mais um sinal da espiritualidade, mostrando que, mesmo nos momentos mais difíceis, sempre há uma luz para quem busca o próprio caminho com humildade e dedicação.

Foto: Oyawuremi Fotografias

A transformação profunda com Iemanjá

Uma das experiências mais marcantes de Ingrid foi sua iniciação para Iemanjá, a Orixá das águas e da maternidade. Esse contato trouxe uma nova percepção sobre a própria vida e sobre os caminhos que ela percorria. “O Orixá me mostrou que vivi situações que não era para viver,” compartilha. Nesse processo, Ingrid percebeu o quanto estava presa a padrões que não a faziam feliz e o quanto se desvalorizava em nome de relacionamentos que a sufocavam.

A iniciação foi um ponto de virada, permitindo que Ingrid reencontrasse sua força. Ela passou a enxergar a própria vulnerabilidade como uma ferramenta para crescer e se valorizar. O processo espiritual trouxe uma guinada positiva, ajudando a restaurar sua saúde física e emocional, enquanto ganhava uma nova perspectiva sobre sua missão de vida.

O desafio de equilibrar o pessoal e o profissional

Quando perguntada sobre como equilibra a vida de mãe e cartomante, Ingrid não hesita em brincar: “Eu não equilibro!” Ela admite que a vida é uma balança constante, onde ora prioriza o filho, ora as demandas do trabalho. Mas, com uma risada gostosa que virou uma marca registrada, ela revela que aprendeu a encontrar pequenos rituais que tornam esse equilíbrio possível. Todos os dias leva e busca o filho na escola e prepara as refeições em casa, garantindo que, mesmo com a rotina corrida, o tempo de qualidade com a família seja prioridade.

Às vezes, imprevistos aparecem, mas Ingrid encontrou uma forma de lidar com os desafios de cada semana. Nos dias em que precisa atender mais clientes, ela tenta compensar se dedicando ao filho em outros momentos. E assim, a vida vai seguindo sem grandes percalços.

Sonhos simples, conquistas profundas

Para o futuro, Ingrid não tem grandes ambições materiais; ela quer seguir com a cartomancia e aprofundar seu vínculo com o Candomblé. Entre seus planos, está adquirir mais materiais de trabalho, investir em cursos e, quem sabe, realizar o sonho de um terreno onde possa viver rodeada pela natureza. “Quero poder atender presencialmente no meu próprio cantinho”, sonha, visualizando um espaço onde as energias fluam em harmonia com os animais e as plantas, e ela possa oferecer a seus clientes o acolhimento que sempre concedeu a todos.

“Quero ser uma boa mãe para o meu filho e uma filha presente para a minha mãe”, afirma a cartomante. Ingrid acredita que a espiritualidade já lhe trouxe o que precisava, e agora seu foco é apenas continuar esse caminho, guiada por Exu e Iemanjá.

Você encontra Ingrid no Instagram @ingrid.cartomante e no Threads.

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