Dependência emocional de mães com os filhos

Eu nunca imaginei que um pequeno afastamento pudesse causar tamanha tempestade emocional em mim. No feriado de São João, Luca, que está com 10 anos, viajou pela primeira vez sem nós. Foram apenas cinco dias, mas o impacto dessa separação me pegou de surpresa pela dependência emocional que eu não sabia que seria tão intensa.

Falar sobre isso não é um grande motivo de orgulho, afinal, falar sobre nossas vulnerabilidades nunca é. E por mais que eu me sinta mais desapegada do que quando ele era menorzinho, descobri que ainda não estou preparada para lidar com esse sentimento de ninho vazio, mesmo que por poucos dias.

Filho desapegado, mãe na dependência emocional

O convite para passar o São João no interior com um casal de amigos, e seus filhos e sobrinhos da mesma faixa etária de Luca, se estendia a toda a nossa família. Nós, que sempre aceitamos esse convite, dessa vez estávamos desfalcados porque eu simplesmente não queria ir. Era uma questão minha comigo mesma, eu não estava a fim de festa, de celebrações juninas, de casa cheia, de interações sociais. Mas não podia impedir que meu filho fosse privado dessa diversão.

Essas experiências são fundamentais para o crescimento e a independência da criança, e eu não podia – e nem queria – que uma fase de introspecção minha fosse empecilho para ele. No entanto, a realidade da separação se mostrou muito mais difícil do que eu imaginava. Na noite anterior, enquanto ficava deitada ao lado de Luca passando orientações, fui tomada por uma avalanche de emoções que culminaram em lágrimas silenciosas, porém incessantes.

No dia em que ele viajou, depois de uma despedida animada (por parte dele, que estava super empolgado com essa autonomia), entrei debaixo do chuveiro e desabei. Chorei até colocar para fora tudo o que estava preso.

Apesar da saudade, privá-lo da diversão e da companhia de outras crianças não fazia sentido.

Não somos robôs sem sentimentos!

A dependência emocional das mães com os filhos é natural, mas não tão discutida como outras intempéries da maternidade. Desde o nascimento, criamos um vínculo tão profundo e significativo que se torna difícil imaginar a vida sem a presença constante de nossos filhos. A independência deles, embora desejada, pode causar uma dor aguda e inesperada, e foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Essa dependência emocional não é apenas um reflexo do amor materno, mas também do papel central que a maternidade ocupa na vida de muitas mulheres. Para muitas de nós, ser mãe se torna uma parte fundamental da nossa identidade, e qualquer mudança nessa dinâmica pode provocar uma crise emocional.

Pensando racionalmente, sabemos que esses momentos de autonomia são importantes para o desenvolvimento e o crescimento social das crianças. No entanto, por mais que estejamos cientes dessa necessidade, na prática a experiência pode ser emocionalmente desastrosa. Além da saudade, temos que lidar com o conflito interno entre saber o que é certo e bom e estar com o coração dilacerado de saudade. Definitivamente não somos robôs!

Maneiras de lidar com a dependência emocional

A partir do primeiro dia difícil, comecei a buscar maneiras de lidar com a dependência emocional de forma mais saudável. Como mencionei no início do texto, eu estava em um momento de introspecção, de precisar ser minha própria companhia, de respeitar e acolher esses sentimentos. A primeira coisa que fiz? Uma série de stories no Instagram!

Sim, minha gente! Não estava buscando empatia ou acolhimento alheio, pois era um momento meu comigo mesma. Mas eu precisava expressar tudo o que estava sentindo, e um textão em forma de vídeo foi a maneira mais prática de fazer isso.

Além de desabafar, aqui estão outras estratégias que podem ser úteis:

1. Reconhecer e acolher os sentimentos

O primeiro passo é reconhecer que essa dependência emocional é normal e aceitável. Ter a consciência de que sentir saudade e tristeza não fazem de você uma má pessoa ou um ser de outro mundo é fundamental para acalmar o coração.

2. Manter a cabeça ocupada

Cada um tem uma forma de ocupar a mente, as formas que escolhi para não me entregar às lágrimas foi colocar a leitura em dia, assistir séries e trabalhar. A leitura, aliás, contribuiu bastante para me distrair. Nessa minha fase de autoconhecimento e autocuidado, tenho lido bastante sobre espiritualidade, e isso tem me ajudado em outras questões.

3. Conversar com outras mães

Depois que expus nos stories do Instagram meus sentimentos, muitas pessoas me procuraram para dizer que se sentiam da mesma forma. Conversar com outras mães foi extremamente confortante. Saber que não estava sozinha e que outras pessoas entendiam meus sentimentos fez uma grande diferença.

Meu pequeno de volta ao ninho

Praticamente contei as horas para o retorno de Luca. Mas sabem o que percebi durante a ausência dele? Que apesar da saudade (e da choradeira, kkkk), eu havia conseguido lidar com a separação de uma maneira mais saudável. Ele estava cheio de histórias para contar, e eu mais consciente da minha própria capacidade de enfrentar esse tipo de situação.

A dependência emocional das mães com os filhos é uma parte natural da maternidade, mas é importante aprender a lidar com esses sentimentos de forma saudável. A experiência da primeira viagem do meu filho sem mim foi um importante lembrete de que, apesar da dor da separação, somos capazes de superar e crescer com essas experiências.

Se você está passando por uma situação semelhante, lembre-se de que é normal sentir saudade e tristeza. Procure apoio, cuide de si mesma e saiba que cada passo de independência dos nossos filhos é uma conquista tanto para eles quanto para nós.

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