Costumo dizer que minha geração é a da transição. Cresci em uma era totalmente analógica, fazia trabalho escolar em papel pautado ou – o auge do profissionalismo nos anos 1990 – digitado na máquina de escrever automática. O acesso ao computador em casa chegou já no final da minha adolescência / início da vida adulta. Hoje eu crio meu filho em um mundo completamente digital. As diferenças são muitas, mas posso dizer que na minha época uma delas era praticamente inexistente: a indústria das fakes news.
No mundo de hoje, a informação está ao nosso alcance com apenas alguns cliques, e isso tem seu lado positivo e negativo. Do mesmo modo que não precisamos enfiar a cara nas pesadas enciclopédias para fazer uma pesquisa e poupar bastante do nosso estimado tempo, podemos nos deparar com notícias falsas que se espalham rapidamente, criando confusão e desinformação.
O que são as fake news e por que são tão perigosas?
Fake news são informações falsas ou enganosas apresentadas como se fossem notícias verdadeiras. Elas podem ser criadas por vários motivos: ganho financeiro, manipulação política ou simplesmente para enganar as pessoas. E nem pessoas com grande discernimento estão imunes, uma vez que as plataformas de mídia social tornaram-se um terreno fértil para essas notícias se espalharem, alcançando milhões de pessoas em questão de horas – inclusive eu e você!
No primeiro trimestre deste ano de 2024, foi noticiado o caso da jovem Jéssica Canedo, que teve uma notícia falsa disseminada sobre um possível relacionamento amoroso com o humorista Whindersson Nunes. A divulgação da fofoca em perfis com grande audiência nas redes sociais teria levado a jovem a tirar a própria vida.
Assim como a que ceifou a vida de Jéssica, disseminação de notícias falsas pode ter outras consequências graves. Elas podem influenciar eleições, causar pânico desnecessário, prejudicar a reputação de indivíduos ou empresas e até mesmo colocar vidas em risco. A confiança do público na mídia também é minada, tornando mais difícil para as pessoas distinguirem entre fatos e ficção.
Evitando a disseminação de notícias falsas
Você não precisa ser um jornalista ou criador de conteúdo para ter sua parcela de responsabilidade com o que é compartilhado nas redes. Mesmo como um usuário comum, que consome e compartilha o conteúdo de terceiros, é fundamental desenvolver um senso apurado de discernimento para identificar e combater a disseminação de informações falsas. Aqui estão algumas práticas que todos podemos adotar para desempenhar nosso papel nessa importante missão:
1. Verifique as fontes
Antes de compartilhar qualquer informação, verifique a origem da notícia. Sites renomados e confiáveis têm padrões rigorosos de verificação de fatos. Se a notícia vem de um site desconhecido ou de uma fonte duvidosa, desconfie. Uma pesquisa rápida pode revelar se a informação é confiável ou não.
2. Leia além do título
Os títulos das notícias são frequentemente criados para chamar a atenção e podem ser enganosos ou exagerados – os chamados “click baits”. Antes de compartilhar, leia o artigo completo para compreender o contexto. Muitas vezes, o conteúdo do artigo não justifica o drama sugerido pelo título.
3. Considere o contexto e a data
Notícias antigas podem ressurgir nas redes sociais e serem interpretadas como atuais. Verifique a data da publicação e considere o contexto em que a notícia foi escrita. O que era verdade em um determinado momento pode não ser mais relevante ou preciso agora.
4. Utilize ferramentas de verificação de fatos
Existem diversas organizações e ferramentas dedicadas à verificação de fatos, como a Lupa, Aos Fatos, Boatos.org e o Projeto Comprova. Utilize esses recursos para confirmar a veracidade das informações antes de compartilhá-las. Isso ajuda a garantir que você não está inadvertidamente espalhando desinformação.
5. Questione conteúdos sensacionalistas
Notícias que parecem sensacionalistas ou incrivelmente chocantes geralmente têm um propósito oculto, como atrair cliques ou manipular opiniões. Seja cético e procure mais informações de fontes confiáveis antes de compartilhar. Se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente não é.
6. “Vi no Zap”
Notícias compartilhadas em aplicativos de mensagens, cujas fontes originais são difíceis de identificar, não devem ser consideradas confiáveis. É importante verificar a autenticidade das informações e a credibilidade das fontes antes de repassar qualquer conteúdo, pois isso ajuda a evitar a disseminação de fake news. “Vi no Zap” não é uma fonte confiável!
7. Seja um bom exemplo
Incentive amigos e familiares a verificarem fatos e a serem críticos com as informações que encontram online. O comportamento responsável é inspirador e pode ajudar a criar uma comunidade mais informada.
8. Observe o português
Um veículo de mídia profissional e confiável dificilmente publicará notícias com erros de português. Embora jornalistas não sejam imunes a erros de ortografia ou digitação, veículos de imprensa respeitáveis possuem equipes de redatores e revisores dedicados a evitar imprecisões e erros. Se um texto estiver repleto de erros, é um sinal de alerta de que a notícia pode não ser confiável. Nesse caso, não compartilhe a informação.
9. URLs incomuns
Ao lidar com notícias online, é importante prestar atenção às URLs dos sites. Muitas vezes, sites de fake news usam endereços que imitam grandes portais de maneira sutil, alterando uma letra ou adicionando um hífen para enganar os leitores. Além disso, URLs muito longas ou estranhas são frequentemente um sinal de alerta. Esses sites costumam adotar essas táticas para parecerem legítimos, mas um exame mais atento da URL pode revelar sua verdadeira natureza. Sempre desconfie de URLs incomuns.
Por mais que a internet seja uma fonte de lazer para você, adotar práticas responsáveis é uma maneira simples de ajudar a reduzir a disseminação de fake news e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente. Cada pequeno ato de verificação de fatos e de pensamento crítico conta. Juntos, podemos combater a desinformação e promover um ambiente digital mais saudável e confiável.