Receber o teste positivo para uma gravidez tão desejada e acolher nos braços uma criança depois de longas semanas de gestação são aqueles momentos que ficam marcados como memórias felizes para sempre. A gravidez é uma das fases mais cheias de emoção na vida de uma mulher! Contudo, para as gestantes que estão vivenciando esse momento em pleno surto do coronavírus, ou para aquelas que acabaram de ter filho, junto com a felicidade pela criança concebida ou que acaba de chegar ao mundo, a alegria caminha lado a lado com incertezas, medos e ansiedade.
Gravidez e parto em tempos de COVID-19
Em meio à mistura de sentimentos pela descoberta da gravidez ou pelas boas vindas de um novo ser ao mundo, Lohrena Alves e Marília Moraes tiraram um tempinho para conversar com o Oxente Menina sobre os cuidados da gestação e a criação de um bebê em plena pandemia.
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Teste positivo: bebê a caminho
A irregularidade do ciclo menstrual, graças uma síndrome do ovário policístico, já tinha se tornado tão habitual para Lorhena Alves que ela nem estranhou quando a menstruação atrasou no mês de abril. Apesar das tentativas para engravidar, que começaram em novembro, a advogada não colocava muita fé na possibilidade, pelo menos não de imediato: “Por conta desse distúrbio hormonal, a ginecologista já havia me alertado sobre a dificuldade”, afirma Lorhena.
Se o atraso no ciclo era comum, assim como as cólicas e a dor nos seios, os enjoos matinais não. Foram as constantes náuseas que levaram Lorhena a fazer o teste de farmácia, “mas não queria criar muita expectativa, porque já tinha me decepcionado outras vezes”, conta. Sem decepções dessa vez, a aparição da segunda linha no teste de gravidez foi motivo para muito choro de alegria e comemoração.
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Acompanhamento pré-natal em plena pandemia
Por fazerem parte do grupo de risco, grávidas e puérperas precisam seguir à risca a norma do isolamento social, mas como fazer o acompanhamento pré-natal quando o risco de contágio é iminente? Em nota divulgada pelo Ministério da Saúde, todas as gestantes assintomáticas e sem síndrome gripal devem ter o atendimento preservado. No entanto, de acordo com Dra. Rimena Melo, ginecologista, obstetra e especialista em medicina fetal, as consultas nesse período devem ser mais espaçadas e intercaladas entre as presenciais e a telemedicina. “É importante salientar que a medida de prevenção mais eficaz é ficar em casa. Se precisar sair, o uso da máscara é imprescindível”, declara.
Apesar de tantas medidas, na prática o medo é real. E a solidão por não ter a presença de um acompanhante também. “Meu marido está em Recife sozinho, porque ele ainda sai pra trabalhar todos os dias. Então estamos evitando nosso contato”, conta Lorhena, que está na companhia dos pais em Aliança, a 90 km da capital pernambucana. “A situação é difícil, mas estou tão feliz e grata a Deus por esse presente, que só quero cuidar e proteger”.
Já Marília e Luã Souza tiveram mais chances de usufruir do senso de normalidade até a reta final da gestação. Juntos em quase todas as ultrassonografias e exames laboratoriais, o baque para o casal veio nos últimos exames, quando Luã foi impedido de acompanhar a esposa. “Até para agendar a ultra foi difícil, porque (as clínicas) só estavam marcando exames essenciais. Precisei de uma requisição à parte da médica para dizer que aquela ultrassonografia era essencial para mim, por já estar na fase final da gravidez. Fui atendida, mas não pude ter meu marido ao lado”.
A chegada do bebê em meio ao caos do coronavírus
Em uma gestação permeada de descobertas, cuidados e algumas frustrações, jamais cruzou a cabeça do jovem casal que o mundo estaria tão turbulento no momento do nascimento do esperado filho. Após perder o tampão mucoso (uma espécie de “rolha” que cobre o útero da gestante) e com contrações ritmadas, a tão chegada hora de sentir o bebê nos braços estava chegando para Marília. “Precisei ir três vezes ao hospital no mesmo dia. Da primeira vez, pela manhã, estava com apenas um centímetro de dilatação. Da segunda vez, já à noite, mesmo caminhando ininterruptamente durante uma hora, a dilatação só aumentou mais um centímetro”.
Foi só chegar em casa para começar a sentir contrações mais fortes e retornar para o hospital, dessa vez para ser internada em definitivo e aguardar o grande momento. Marília conta que no hospital havia vários cartazes espalhados informando sobre a quantidade permitida de acompanhantes, inclusive para profissionais de saúde, como enfermeiras e doulas. “Só Luã pode me acompanhar, sem direito a alguém para fazer revezamento. Minha mãe e sogra só conheceram o bebê quando voltamos para casa“, explica. Ainda segundo a mamãe de primeira viagem, o atendimento foi mais distante do que o normal acolhimento: “Mesmo estando em trabalho de parto, não havia ninguém para nos auxiliar. Por sorte, já havíamos nos preparado para isso e conseguimos nos virar. Mas confesso que senti falta de um apoio profissional”. Devido à pouca dilatação, o sonhado parto normal não foi possível e Marília acabou tendo que ser submetida à cesárea.
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Apoio restrito à puérpera dentro do hospital
Por mais compreensíveis que sejam todas essas medidas de segurança e distanciamento, a falta de apoio deixou o casal, se não totalmente desapontado, um pouco carente de instruções: “Minhas amigas que tiveram filhos recentemente relataram sobre os cuidados por parte das enfermeiras, das orientações sobre amamentação e banho. Não tivemos nada disso! A enfermeira trocou a fralda de Arthur uma única vez e me ajudou a levantar, depois disso fizemos tudo sozinhos”.
Acompanhamento ao bebê nos primeiros dias de vida
Após o nascimento, é importante que a criança tenha um acompanhamento pediátrico logo na primeira semana. Conseguir um pediatra foi uma tarefa difícil, e Marília conta que só conseguiu a consulta na segunda semana de vida do bebê: “Eu estava cheia de dúvidas, queria perguntar várias coisas. O olhinho de Arthur estava inflamado e eu não sabia o que fazer”. Depois de muitas tentativas, a consulta finalmente foi marcada. “Liguei para todos os pediatras do plano. Cheguei até a chorar ao telefone para conseguir uma consulta com um médico que não estava recebendo novos pacientes”, desabafa.
Prestes a completar seu primeiro mês nos braços da família, a busca dos pais de Arthur agora é pelas vacinas. Segundo informações repassadas ao casal ainda no hospital, existem algumas unidades de saúde em Curitiba, onde residem, operando exclusivamente para grávidas, puérperas e recém-nascidos. A torcida é para que os contratempos sejam menores e as saídas cada vez menos necessárias.
Um sopro de vida
Na data de publicação deste texto, os casos de morte no Brasil por causa do coronavírus já ultrapassam 21.000. Em face a um momento tão conturbado e a tantos óbitos, é um acalento ao coração poder escrever sobre a vida. Que aos pais dessas crianças não faltem coragem e serenidade para enfrentar os percalços que o COVID-19 tem trazido. Para Arthur Gael, para o bebê que se desenvolve no ventre de Lorhena e para todos os bebês recém-chegados e à caminho, que venham com muita saúde e que continuem sendo e trazendo luz nesses tempos tão estranhos.