Viajar sem filhos é o fim do mundo?

Um crise de vesícula e uma internação emergencial para uma cirurgia me tiraram de casa. Luca estava com um ano e meio, tínhamos acabado de voltar de uma viagem em família, a empolgação pela trip ainda era intensa, e lá fui eu ser hóspede de novo – mas dessa vez em um hospital. A dor das crises me fazia chorar, mas não tanto quanto a saudade do meu filho, de ter que dormir sem tê-lo pertinho de mim. Fiquei uma semana dormindo longe do meu pequeno… e não foi o fim do mundo. 

Em uma outra ocasião, alguns meses atrás, fomos almoçar na casa dos avós paternos de Luca e o pequeno quis passar o dia lá. Meu marido estava de folga e até achamos bom poder ter uma tarde só para nós! O combinado era de ir buscar o gordo à noite para que ele viesse dormir em casa, na hora que chegamos lá ele bateu perna, chorou, esperneou e não quis voltar com a gente. Eu não consegui dormir. Mas descobri que viajar sem filhos, ou pelo menos passar uma noite longe da cria, não é o fim de do mundo.

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viajar sem filhos

Viajar sem filhos: sentimento de culpa dos pais

Essas não foram as únicas vezes em que Luca dormiu na casa dos avós, mas nas outras ocasiões sempre houve uma justificativa: a minha internação, o show do Aerosmith, nosso aniversário de casamento… situações de extrema necessidade ou de um vale-night previamente organizado. E quando a iniciativa partiu dele, caí na real sobre duas coisas: 1) Meu bebê está crescendo; e 2) Como os pais conseguem viajar sem filhos?

Livre de quaisquer julgamentos aos pais que sabem curtir os momentos a dois, esse questionamento, que foi levantado pela perspectiva de eu e meu marido fazermos uma viagem em comemoração aos 10 anos de casamento, é baseado inteiramente no meu apego, na minha necessidade de ter meu filho sempre por perto. Imaginar uma viagem sem ele junto é dar margem aos pensamentos mais apocalípticos do tipo “E se alguém der um pirulito e ele se engasgar?”, “E se na casa tiver um escorpião”, “E se derem algum alimento e ele desenvolver uma reação alérgica?”.

“Esse é o famoso sentimento de culpa materna”, explica a Dra. Luzia Maia, psicóloga e idealizadora do Cuidando de Mamães, “são mulheres que têm a sensação de estar sempre devendo algo: mais atenção, mais paciência, aquele brinquedo que a criança pediu e não conseguiu comprar, e até mesmo o sentimento de abandono, de dever um pouco mais da maternidade”

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viajar sem os filhos

Sem eles, nunca mais!

Com vários carimbos no passaporte antes da chegada dos filhos, a bacharel em direito Elizabeth Carvalho, mãe de Matheus (5) e Gabriel (3), se aventurou com o marido em uma viagem para os EUA um ano ao após o nascimento do primeiro filho e já grávida do segundo. “Tentamos focar no casal que éramos antes de sermos pais, queríamos um momento só nosso. Mas foi uma das maiores loucuras que fizemos, não imaginei que seria tão difícil ficar longe do meu filho”, conta Elizabeth, que deixou o pequeno na casa dos avós com o respaldo de uma equipe de babá e o padrinho da criança.

A viagem, que incluía Las Vegas, Los Angeles e Orlando no roteiro, teve um início tranquilo, “Como Las Vegas, a primeira parada, é um destino para adultos, a saudade foi mais amena. Mas quando chegamos à Disney, no nosso último destino, chorei todos os dias. A viagem teria sido muito mais completa com nosso filho junto”, acrescenta.

Elizabeth conta ainda que em uma segunda tentativa de viagem em casal, o filho mais novo, com um ano na época, desenvolveu uma gripe forte com cansaço. “Tínhamos deixado toda uma equipe tomando conta dos dois e até o meio da viagem estava tudo tranquilo e divertido, mas depois que soube da gripe do meu filho, a viagem acabou para mim. Meu corpo estava lá, mas minha cabeça estava em casa, eu só queria voltar e estar com eles”, desabafa. “Essa foi a nossa última viagem só eu e meu marido. Para viajar com a cabeça tranquila, só com as crianças junto”, finaliza Elizabeth, que já viajou para a Disney com o marido e os filhos e está organizando a próxima viagem para o mesmo destino dentro de algumas semanas. 

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viajar sem criancas
Elizabeth Carvalho com o marido e os dois filhos: “Para viajar com a cabeça 100% tranquila prefiro levar as crianças”.

Perrengues fazem parte do aprendizado

De acordo com a Dra. Luzia Maia, o medo de algo dar errado junto ao sentimento de culpa que faz com que a mulher se sinta a pior mãe do mundo não é incomum, mas é preciso ficar alerta a este sentimento para não desencadear problemas mais sérios. Quando o medo atrapalha o desenvolvimento e a autonomia da criança, ou atrapalha até mesmo aquele momento que era para ser prazeroso para os pais, é hora de buscar ajuda”, explica a psicóloga, que ressalta ainda que a maternidade pode ser mais leve, sem tanta culpa e medos. “Os filhos vão cair, vão ralar o joelho, vão passar por frustrações, e tudo isso é positivo porque faz parte do desenvolvimento emocional das crianças”, pontua.

Para ajudar a lidar com esses sentimentos de medo e culpa, auxiliar no processo de superação desses obstáculos e mostrar que viajar sem os filhos não é o fim do mundo, a psicóloga sugere algumas dicas quem devem ser colocadas em prática:

  1. Sempre que for sair, deixe a criança com alguém de sua confiança.
  2. Deixe os remédios, orientações sobre alergias, intolerâncias e outras necessidades que a criança tenha no dia a dia, tudo anotado em um papel.
  3. Comece aos poucos! Se você é do tipo de mãe que fica com o coração arrasado quando deixa o filho em algum lugar, comece aos poucos. Deixe uma tarde, depois um tempo maior, comece viajando para lugares mais próximos, e assim por diante.
  4. Mantenha contato com a criança e o cuidador, dessa forma você garante que está tudo bem e que pode curtir seu passeio.

“A sociedade sempre cobra mães perfeitas, porém a maternidade real é bem diferente da ideal, e mães felizes colaboram para o melhor desenvolvimento emocional dos filhos. Tenha seu próprio tempo”, finaliza Luzia Maia.

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5 comments Add yours
  1. Pura verdade essa culpa que sentimos toda vez que deixamos nosso filho sem nosso respaldo.
    Ainda não tive a experiência de viajar sem minha filha, e almejo isso, apesar de não ter a menor noção de como será minha reação ( o choro será inevitável, mas será apenas de saudade ou de alegria pela liberdade?) .
    Mas ao mesmo tempo tenho vontade de carrega-la para o mundo.
    Cabeça de mãe é complicada.

  2. Eu AMO viajar e AMO levar eles comigo. Fato. Ainda mais pra destinos que eu tenho certeza que eles vão amar. Não conseguiria ir pra Orlando por exemplo sem eles! rs
    Mas já viajei apenas duas vezes sem eles. Uma quando o Marco era pequeno (não tinha a Manu ainda). Outra quando a Manu era pequena e o Marco já era maiorzinho. Nas duas vezes foram viagens rápidas e não menos dolorosas pra mim… na última, a Manu ligou pelo tablet chorando e falando que queria que eu voltasse já. Quase morri! :(
    Sou do tipo apegada mesmo. Passei minha infância distante da minha mãe porque ela trabalhava por dias seguidos em outra cidade e acho que isso reflete na minha relação hoje com meus filhos.
    Amei o post!
    Beijoo ;)

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