Férias acabando, pais voltando a ter algum descanso depois de um mês inteiro de atividades e muita criatividade para entreter a criançada durante as férias de julho. Enquanto alguns pais respiram aliviados pelo fim da folga dos filhos e pela perspectiva de ter a vida de volta à rotina, a tensão de outros aumenta a cada dia na expectativa do primeiro dia de aula e a experiência de mandar a criança para a escola pela primeira vez.
É normal para os pais de crianças pequenas, em especial aquelas que completam 24 meses no segundo semestre, optarem por colocar os filhos na escola na metade do ano escolar. Seja por opção ou por necessidade, desatar esse laço entre o adulto que está com o filho desde o seu nascimento não é fácil para o responsável e nem para a criança. “Apesar de necessária, essa separação é um processo doloroso tanto para a mãe quanto para a criança”, conta a pedagoga Priscilla de Moraes Custódio, coordenadora da educação infantil da Escola do Futuro, de São Paulo.
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Primeiro dia de aula: sentimento de culpa
Atrelado à separação está o sentimento de culpa dos pais em deixar os filhos na escola. “Me senti como se estivesse traindo a minha filha, como se estivesse tentando me livrar dela, deixando-a num lugar onde todas as pessoas eram estranhas”, confidencia a advogada Alessandra Santos, mãe de Maria Luiza, de 3 anos.
Alguns pais alimentam ideias equivocadas sobre como é o atendimento à crianças pequenas, imaginando que na escola as crianças terão pouco carinho e pouca atenção, e misturam essas fantasias com a própria culpa em deixar os filhos no colégio. Cláudia Razuk, diretora do Colégio Itatiaia, de São Paulo, aconselha que “para desmistificar essas primeiras fantasias, a melhor maneira é falar com pessoas que já tenham filhos na escola pedindo mais detalhes sobre suas experiências. Ver o funcionamento e o tratamento destinado às crianças em diversos horários e rotinas do colégio também ajuda”. Nessas visitas, os pais podem verificar todos os pontos positivos, e esclarecer que o que eles imaginavam ser negativo pode, na verdade, nem existir. “Colocar a criança em contato com outras crianças que já frequentam escolas também é bastante válido”, completa Cláudia.
Processo de adaptação e reação das crianças
O processo de adaptação escolar varia de criança para criança. Algumas tem mais dificuldade em desatar os laços dos pais, e o choro dos primeiros dias é absolutamente normal. “O choro na hora da separação é frequente e nem sempre significa que a criança não queira ficar na escola; da mesma forma que a ausência do choro não significa que a criança não esteja sentindo a separação”, comenta Priscilla Custódio, que destaca ainda que a adaptação requer da criança a decisão de ficar por vontade própria.
Para a fotógrafa Joyce Domingos, mãe de Pedro, hoje com 7 anos, o período de adaptação escolar foi frustrante: “Pedrinho chorava muito pra ficar na escola quando foi pela primeira vez, com 1 ano e 8 meses, mas quando eu ia embora ele ficava numa boa. Pensei que era algo com a escola, troquei e continuou do mesmo jeito. Graças a Deus tive muita ajuda da professora e de toda equipe pedagógica”, conta.
A reação oposta também é comum, e chega a ser surpreendente quando os pais esperam uma crise de choro. “Aos 3 anos era o início da vida social do pequeno, sem papai e mamãe do lado. Esperei que ele chorasse ou reclamasse, mas isso não aconteceu. Ele ficou muito feliz, apaixonado por tudo e encantado com todos da escola”, conta Elizabete Plácimo, mãe de Enrique.
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Aceitando a escola como a nova fase da vida
Fácil não é para nenhum dos dois lados, mas antes de serem invadidos pelos pensamentos de culpa, os pais devem se policiar para enxergar a escola como uma nova fase da vida dos filhos. Além disso, é importante que não transmitam para a criança que escola é uma coisa negativa, facilitando, assim, a adaptação quando o momento chegar.
Com base nas orientações da pedagoga Priscilla Custódio, da Escola do Futuro, e da diretora do Colégio Itatiaia Cláudia Razuk, seguem algumas dicas do que fazer antes de colocar a criança na escola e durante o período de adaptação:
1. Visite escolas no período de aula. A criança terá a oportunidade de ver outras crianças no ambiente e os pais poderão ver o funcionamento e a política do colégio na prática.
2. Peça referências ao pais com filhos da mesma idade. Mas evite visitar só uma escola ou matricular a criança na primeira referência que visitar. Procure conhecer a proposta pedagógica de cada uma das escolas para ver qual delas se adapta melhor à base educacional familiar.
3. Procure adaptar seus horários na primeira semana para acompanhar a criança na escola. Algumas escolas não só permitem como encorajam os pais a permanecerem nas dependências no período de adaptação escolar da criança.
4. Evite chorar na frente da criança ao se despedir. O referencial de segurança dela são os pais, e se a mãe ou o pai demonstra insegurança na hora de deixá-la na escola, seu primeiro impulso será pensar que há algo de errado com o lugar.
5. Cabe à mãe ou pai entregar a criança ao educador, colocando-a no chão e incentivando-a a ficar na escola. Não é recomendável deixar o educador com o encargo de retirar a criança do colo da mãe, pois a criança pode assimilar o educador como a pessoa que o tira dos braços dos pais.
6. Nunca saia escondido do seu filho. Despeça-se naturalmente para que ele entenda que o tempo de ficar na escola faz parte da rotina dele.
7. Incentive a criança a procurar a ajuda do seu educador quando necessitar algo, para que crie laço afetivo com ele e estabeleça uma relação de confiança e respeito.
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8. A adaptação das crianças de período integral deve ser feita inicialmente em um turno.
9. A autoridade na sala é o educador. Mesmo nas escolas que permitem a presença dos pais nos primeiros dias, é de bom tom evitar alguma interferência, a menos que solicitada. Essa atitude irá ajudar a criança a entender que deve respeitar o educador e evitar conflitos com a percepção das outras crianças da sala.
10. Procure adaptar a criança aos horários da escola antes mesmo do início das aulas. É muito comum crianças iniciarem o processo de adaptação na escola bem no horário em que, pela rotina de casa, deveriam estar na hora do cochilo, por exemplo. Se a criança está com sono, sua receptividade às mudanças e novidades ficará prejudicada, dificultando o processo.
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