“Por que você não chora?”, perguntou a mãe Linnéa ao filho de 3 anos, quando percebeu que o garoto queria chorar e prendia as lágrimas. “O Homem-Aranha não chora”, respondeu a criança diante do olhar perplexo da mãe ao ver seu pequeno corpo tremendo por segurar o choro. “Eu senti meu coração se partindo, então comecei a pensar em como são ruins esses ideais apresentados às crianças”, explica Johansson.
Super-heróis como você nunca viu
A mãe de 29 anos é sueca, mas mora na Noruega há cinco anos. Além do filho mais velho, ela também é mãe de um bebê de um ano. Linnéa se recorda de desenhar quadrinhos desde a época em que era adolescente. Agora ela está concluindo um caderno de desenhos para crianças, que além da ilustração do Homem-Aranha usando o banheiro, inclui também um Batman que dança balé, um Hulk que carrega sacolas de supermercado e uma Branca de Neve que troca de roupa com o Super-Homem.
A criação dos desenhos foi uma reação de Johansson aos modelos que as crianças são moldadas a gostar, e percebeu no incidente com o filho um alarme soando. Linnéa conta que antes de entrar na pré-escola, o pequeno gostava de Pippi Meialonga, mas na instituição aprendeu que Pippi era uma menina e que ele não deveria identificar-se com ela. Super heróis, como o Super-Homem, seriam mais adequados para um menino.
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Quebrando paradigmas
Linnéa passou a observar que os paradigmas para meninas são as princesas que se comportam com o objetivo de agradar e serem objetos bonitos. “A vantagem das princesas da Disney é que as meninas, pelo menos, podem mostrar emoção, choro, abraço. Os meninos são ensinados a ser resistentes e fortes, como o Hulk e o Homem-Aranha”.
Na semana passada a cartunista postou uma imagem do Homem-Aranha usando o banheiro em sua página do Facebook e a repercussão foi imediata. “Eu realmente só queria mostrar para os meus amigos. Eu não achei que houvesse a necessidade de um movimento com relação a isso, mas é óbvio que existe”, diz.
A imagem foi compartilhada centenas de vezes, e o incentivo de pais interessados nas ilustrações só aumenta. Linnéa conta que os pedidos para criar mais imagens semelhantes e de mensagens de pessoas dizendo que querem comprar o caderno de desenho chegam o tempo todo. “A resposta é surpreendente. Eu tenho respondido a e-mails e mensagens no Facebook constantemente há dias. Tento responder todas. Significa muito quando pais e educadores dizem que querem colocar meus desenhos em painéis para que as crianças possam vê-los”, diz Johansson.
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O filho de três anos é um privilegiado, pois já coloriu os desenhos. Mas não foi o único. Muitos pais já imprimiram os desenhos disponibilizados na página do Facebook e entregaram aos seus filhos para colorirem. “Recebi fotos de crianças que pintaram a imagem granulada por causa da baixa resolução”, diverte-se Linnéa com orgulho.
Opiniões controversas
A resposta não foi boa em todas as partes do mundo. As imagens foram compartilhadas em um site que tem a maioria dos usuários concentrada nos Estados Unidos, e Johansson conta que americanos acharam os desenhos estranhos. “Algumas pessoas comentaram que é nojento ver o Homem-Aranha no banheiro, e ainda pior por ele estar na companhia da filha. Nos EUA, aparentemente, é natural que o Homem-Aranha suba paredes e fique de cabeça para baixo, mas usar o vaso sanitário é bizarro”, diz.
No dia 22 de março ela lançará todos os desenhos na sua página do Facebook. Serão dez desenhos de super heróis e princesas em situações que não vemos regularmente. O arquivo, em PDF, poderá ser baixado e compartilhado por todos. “Colocarei o número da minha conta, e aqueles que puderem e desejarem poderão contribuir com o meu trabalho”, avisa. A razão pela qual ela não transforma os desenhos em um livro é por causa dos direitos autorais pelos personagens, mas a possibilidade não está totalmente descartada. Johansson vai se aprofundar na questão para ver se eles poderão ser comercializados como caricaturas.
Desde que mudou-se para a Noruega, Linnéa já trabalhou em clubes e pré-escolas, mas agora deseja dedicar-se exclusivamente à arte. “Independente de onde o desenho me levar, eu sempre levarei comigo a sensação de ter feito algo significativo. Eu espero ter dado mais opções aos meus filhos e às outras crianças”.
O texto é uma reprodução/adaptação da matéria publicada no portal norueguês Adressa.no. Fotos: Mariann Dybdahl.