“Perca a mala, mas não perca minha câmera”. Ouvi essa frase enquanto almoçava em um restaurante não muito tempo atrás. A conversa, pelo que pude entender (prestando atenção na fofoca dos outros), era sobre malas extraviadas e a má prestação de serviços por parte das companhias aéreas.
Selfies e ostentação virtual
Em tempos de selfies e ostentação virtual, viajar e não divulgar para o resto do mundo é uma afronta às antigas leis de sobrevivência básica, quando, em uma viagem, só era necessário uma muda de roupa limpa e uma escova de dentes.
De acordo com um levantamento realizado pelo site de viagens TripAdvisor, que revelou os destinos preferidos dos brasileiros e o que eles consideram importante levar para a viagem, 37% das pessoas não têm dúvidas de que a câmera fotográfica é indispensável, enquanto 33% não abrem mão dos smartphones.
Não é para menos que câmeras e smartphones sejam itens tão essenciais numa viagem. Antes tido com um item indispensável pelo simples fato de registrar bons momentos de férias em família e ter recordações para guardar, a câmera hoje tem papel social – no cunho mais literal da palavra: o de divulgar nas redes sociais o quão perfeita a vida é.
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Vida real x filtros do Instagram
Mostrar uma viagem, ou até mesmo a vida perfeita {se é quem alguém tem} nas redes sociais não é o problema. O assunto torna-se sério quando o exibicionismo vira um vício e situações começam a ser forjadas para sair bem na foto, literalmente. O problema vai além de um filtro cobrindo uma situação e vira uma disfunção social.
No ano passado a estudante holandesa Zilla van den Born fez um experimento: avisou aos amigos e familiares que iria passar 5 semanas viajando pela Ásia. Em sua página do Facebook Zilla postava suas fotos em lugares exóticos para atualizar os amigos de cada passo que dava, postava imagens experimentando comidas diferentes, convivendo com pessoas nativas de cada lugar por onde passava. Durante esse tempo de viagem, Zilla nunca saiu de Amsterdam. Com o conhecimento apenas do namorado, todas as imagens postadas nas redes sociais foram montagens feitas no apartamento ou com fotos pré-existentes e editadas no Photoshop.
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Clique, mas viva!
Fotografar faz parte de uma viagem, mas ainda mais importante do que deixar registrado no cartão de memória, são as lembranças que ficam dentro de cada viajante. Fotografe sim, mas não deixe de curtir o momento em troca de um click.