“Deixar de ser pobre!”, foi o que eu pensei quando vi no grupo Viagens em Família no Facebook a ideia para uma blogagem coletiva no tema “10 mudanças para as famílias viajarem mais pelo Brasil”. Contive meu lado engraçadinha e não fiz o comentário que cruzou minha mente, mesmo ele não sendo em nada uma mentira. Como o mundo não gira ao meu redor e eu precisava pensar em soluções que visassem o bem de forma coletiva – e por eu estar numa fase de querer desesperadamente fazer uma viagem – passei a refletir de verdade sobre o assunto, mais ainda agora que tenho um bebê de quase 5 meses para levar junto {razão suficiente também para evitar os mochilões doidos que eu e meu marido costumávamos fazer}.
Tanta reflexão me fez perceber que eu tenho mais reclamações das coisas que já existem do que ideias para melhorar. E tudo bem que não sou nenhuma expert em viagens e não estou nem perto de viajar o tanto que o pessoal lá do grupo viaja {inveja branca de bolinhas pink}, mas vai que a opinião de um leigo também é válida, né? Por isso resolvi dar pitacos baseados em coisas que facilitariam para mim, e com certeza, dentre as coisas que os outros blogueiros listarem, vou me dar conta de que deveria ter colocado na minha lista.
1. Preços das passagens. Lá em 2006, quando a empresa que sugava meu sangue assinava minha carteira de trabalho me deu 40 dias de férias, pensei logo em viajar durante uns 10 dias para um lugar que eu ainda não conhecia. Disse logo a Rodrigo que 40 dias em Natal sem fazer nada não passava nem a pau! Pesquisei o sul do Brasil de cabo a rabo, entrava todo dia nos sites das companhias aéreas para ver se rolava uma promoção joinha e nada, o valor das passagens ficava muito alto para o meu orçamento. E aí como quem não quer nada pesquisei outros países na América do Sul, e, bingo! Bem mais barato, coisa de 40% mais em conta. Incrível, né? Acabou que naquele ano fizemos 15 dias de Uruguai e Argentina, e o sul do Brasil até hoje não conheço. Atualmente minha reclamação maior é com o trecho Recife – Natal. Pensar que já paguei R$ 25 na finada Webjet, ver passagens por quase R$ 600 é um tiro no coração.
2. Boas estradas. Falando novamente em Recife – Natal, depois de 10 anos de idas e vindas na BR 101, eu agora não tenho mais do que reclamar. Depois que o trabalho de duplicação da estrada foi finalizado, o trajeto agora é feito num tapete de concreto, ajudando inclusive a diminuir o tempo do percurso. Porém não são todas as estradas do país que estão em boas condições, e acho que se estivessem, as famílias viajariam muito mais de carro.
3. Restaurantes baby friendly. De dezembro pra cá já fomos umas 3 ou 4 vezes para Natal, sempre de carro. Com Luca a viagem fica um pouco mais lenta, precisamos parar algumas vezes para ele comer, para trocar a fralda, ou simplesmente para ele se esticar {ele odeia ficar no bebê conforto por muito tempo}. Essa parada geralmente fazemos em algum lugar na Paraíba ou em Goianinha-RN, e o que posso dizer desses lugares – e tenho certeza que não é um “privilégio” deles – é que nenhum restaurante tem um mínimo de estrutura para bebês. Não estou falando de uma esteira rolante onde fadas coloridas aguardam os bebês para colocá-los em nuvens e tomar conta enquanto os pais comem uma coxinha entupida de ketchup, estou falando de coisas simples mesmo, como um trocador. Já cansei de contar as vezes em que precisei trocar Luca na cadeira do restaurante, em cima da mesa, em pé no carro…
4. Valor das diárias. Cada vez mais simpatizo com a premissa dos hostels de hospedagem econômica, porque, sinceramente, pagar R$ 350 na diária de uma pousadinha domiciliar no interior dos Cafundós-dos-Judas para um casal e um bebê é demais para mim. Não só para o meu bolso, mas para toda a minha concepção de custo-benefício de hospitalidade. Tem pousada pensando que é resort 5 estrelas, hein?!
5. Trocadores nos aeroportos. Ainda não me deparei com a situação de estar na fila de embarque e precisar ir correndo no banheiro trocar Luca, mas se isso acontecesse eu provavelmente iria esperar subir no avião. Antes de ter filho não era algo que eu observasse, mas agora parando para pensar, não lembro de ter visto banheiros exclusivos para famílias com crianças de colo e nem trocadores decentes nos convencionais. Mães e pais mais experientes em viagens, o que vocês tem a dizer?
6. Trocadores no banheiro masculino. Se já é difícil ter trocador no banheiro feminino, imagina no masculino. Mas quem foi mesmo que decidiu que só a mulher tem capacidade de trocar a fralda de uma criança? E isso não é uma crítica só para aeroportos, vale para rodoviárias, shoppings, restaurantes… Nota mental: avisar ao meu marido para nunca sair sozinho com Luca, porque a sociedade não confia na capacidade de pai dele para trocar a fralda do filho.
7. Estrutura para viajantes nas estradas. Não basta ter uma boa estrada, para que as pessoas possam viajar de carro, especialmente em viagens longas, um mínimo de estrutura para dar suporte seria bom. Lembro quando fiz intercâmbio nos EUA, lá em 1900-e-bolinha, fui de Ohio para a Carolina do Sul de carro com um grupo, e de duas em duas horas parávamos no que parecia serem centros de convivência. Eram postos de parada com banheiros super limpos, cadeiras de descanso, mesas de piquenique e estacionamento – e o melhor de tudo: locais super seguros. Não tinha onde se hospedar, era o tipo de lugar que você parava, descansava e seguia viagem {Tásia Avelino, que mora nos States, me avisou que esses lugares ainda existem, e são chamados de Rest Area. Thanks, friend!}. Seria legal isso aqui no Brasil, porém a ideia é bloqueada quase instantaneamente na minha cabeça quando penso na…
8. Educação. Falem o que quiserem, que o brasileiro é hospitaleiro, caloroso, amigo, bom dançarino de samba {WTF?}, e isso tudo pode ser verdade, mas que também tem muita gente mal educada nesse país, isso tem. Fico pensando se existissem esses centros de convivência nas estradas, quanto tempo será que levaria até que os “donos” começassem a depredar? Outro exemplo da nossa péssima educação é nos aeroportos. A companhia aérea chama para o embarque as pessoas que tem prioridade: idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo, deficientes… Aí lá está um João-sem-braço logo na frente, com fones de ouvido para fazer de conta que não ouviu, passando na frente dos tiozinhos que estão na cadeira de roda. Faça-me o favor!
9. Incentivos locais. Morei 24 anos em Natal e nunca fiz o passeio de barco pelo Rio Potengi. Moro em Recife há 11 anos e nunca fui na Coroa do Avião. Displicência? Talvez. Mas junto com a displicência acho que falta um pouquinho de incentivo das autoridades para fazer com que os habitantes de uma cidade conheçam a própria cidade e o estado. Às vezes até acontece de aparecer uma campanha incentivando o turismo local, mas quando a gente se anima se depara com aquele problema dos preços. E aí é melhor gastar X para conhecer o interior de Pernambuco ou o mesmo X para ir até Machu Picchu?
10. Ah, meu Brasil! Reclamei, reclamei, reclamei, mas não podemos negar que o Brasil é um país lindo e cheio de diversidade. Ao mesmo tempo que me orgulho de morar num país tão lindo, me envergonho de dizer que não conheço muito do Rio Grande do Norte e de Pernambuco e me irrito por ter tanta coisa negativa a dizer do turismo no Brasil.
Sei que as minhas concepções e indignações não irão mudar o mundo, mas que fiquem registrados, quem sabe alguém nesse mundo pensa igual, e duas pessoas de mãos dadas é melhor do que uma só na hora de propagar ideias.
Como citei no início desse post, essa publicação faz parte de uma blogagem coletiva incentivada pelo grupo Viagens em Família, e à medida que outras pessoas forem publicando seus textos, vou editando o post e colocando os links aqui.
O que as famílias viajantes andam falando:
1. Adriana Pasello, do Diário de Viagem
2. Flávia Peixoto, do Viajar é Tudo de Bom
3. Cláudia Bömmels, do Brasileiros Mundo Afora
4. Cláudia Rodrigues, do Felipe, o Pequeno Viajante
5. Andreza Trivilin, do Andreza Dica & Indica Disney
6. Thyl Guerra, do Viajando com Palavras
7. Eder Rezende, do Quatro Cantos do Mundo
8. Adelia Lundberg, do Paris des Petits
9. Márcia Tanikawa, do Os Caminhantes
10. Débora Galizia, do Viajando em Família
11. Karen Schubert Reimer, do As Aventuras da Ellerim Viajante
12. Regeane Nicaretta, do Dicas da Rege
13. Debora Godoy Segnini, do Gosto e Pronto
14. Erica Piros Kovacs, do Viagem com Gêmeos
15. Thiago Cesar Busarello, do Vida de Turista
16. Francine Agnoletto, do Viagens que Sonhamos
17. Sut-Mie Guibert, do Viajando com Pimpolhos
18. Ana Cintia Cassab Heilborn, do Travel Book
19. Flávia Maciel, do Bebê pelo Mundo
20. Cláudia Bin, do Mosaicos do Sul
21. Patrícia Tabalipa, do Roteiro Baby Floripa
22. Andrea Almeida Barros, do RS para o Mundo
23. Patrícia Papp, do Coisas de Mãe
24. Susana Spotti, do Viagem Simplesmente
25. Andrea e Luciano, do Malas e Panelas
26. Patrícia Longo Tayão, do Viajar Hei
Olá Ana Luiza!
Não conhecia o seu cantinho e gostei muito!! Adorei o seu jeito de escrever e falar, ri alto em algumas partes!
E como o pessoal fala, não é a quantidade de viagens, nem se o blog é grande, pequeno, tem 100 pageviews ou 500.000, o que importa é a participação e principalmente, acredito eu, o “desabafo coletivo”.
Quem sabe poderemos não mudar o mundo, mas começar a botar lenha na fogueira??? Porque no trombone já começamos!!!
Um grande abraço!
Márcia, que honra tê-la aqui. Apesar de não fazer parte da blogosfera de viagens, acompanho sempre, e Os Caminhantes é um deles.
Gostei bastante dessa blogagem coletiva por ela nos dar essa chance de expor o que achamos errado, e infelizmente aqui no Brasil existem tantos pontos a considerar, né?
O primeiro passo nós já demos, vamos ver se algo muda.
Beijão
Onde assino? O Brasil é um país tão lindo e sofre tanto em infraestrutura, é até injusto comparar com outros países, senão a vontade é de ficar por lá.
Adorei ler sobre viagens aqui. Mandou bem, Analu. Beijoxxx
Chris, viagens é um tema que adoro, por isso criei as tags Passaporte e Roubadas de Viagens. Infelizmente elas andam paradinhas, mas quem sabe não voltam.
E sim, o Brasil carece muito de estrutura. Uma pena que um país que tem tanto a oferecer em termos naturais não siga os mesmo passos no que diz respeito a estrutura.
Bjosss
Oi Ana!
Eu concordo! Os “desincentivos” sobre o turismo no Brasil são tantos… Que desanima! Faculdade de Turismo?! Vixe! Isto AINDA existe?! Triste… Porém, verdade!
Se pra nós, “turistas”, anda difícil, imagina pro profissional da área ter que dar nó em pingo d’água. Por outro lado tem os profissionais q tem o conhecimento e o capital para oferecer algo melhor e escolhem não fazê-lo. Triste!
Pois é Ana Luiza, sabe o que mais me aborrece na questão dos trocadores? Basta uma parede para instalar, ou seja, não são colocados por pura má vontade e falta de visão de negócio. Simples assim.
Realmente, não dá para se conformar e pagar preços exorbitantes quando nosso suado dinheiro pode comprar “coisa melhor” em outro lugar. Apesar de tudo, ainda #queremosviajarpeloBrasil !!!
Sem dúvida! Apesar de a cada dia ser mais desencorajador, ainda tenho fé. Força na peruca, #queremosviajarpeloBrasil!
Oi Ana, gostei quando você comentou sobre os preços das pousadas que se acham hotéis cinco estrelas. A hotelaria no Brasil não é nenhuma maravilha, mas são especialistas em cobrar alto e oferecer praticamente nada para as famílias. Se você tem 2 filhos, viaje apenas com um e deixe o outro na casa da avó, pois provavelmente não terá lugar para todos no quarto. Parquinho, uma pequena cozinha para preparar as refeições dos pequenos, pra quê? Ele que coma o que você comer e brinque em casa!
Patrícia, resumindo, pra que agradar seus hóspedes se eles vão pagar caro de todo jeito mesmo pra ter um serviço pífio, né? Ah esses empresários brasileiros…
Concordo contigo, falta muita educação e melhor estrutura em estradas. Viajamos muito de carro e sentimos isso na pele.
Melhorar as estradas já é um grande começo, mas a necessidade, infelizmente, vai muito além disso, e educação não se constrói com cimento.